Fim da agonia


Orlando Silva: "Saio para defender minha honra"

“Herança maldita”

Comunista é o sexto auxiliar da presidente Dilma Rousseff a deixar o primeiro escalão em dez meses de governo - e mais uma herança de Lula



Orlando Silva deixou nesta quarta-feira o cargo de ministro do Esporte do governo Dilma Rousseff. Ele é o sexto ministro de Dilma Rousseff a deixar a equipe desde o início do mandato da presidente, em janeiro – e o quinto a cair por envolvimento em um esquema de corrupção. O anúncio oficial foi feito à noite pelo próprio Orlando Silva após reunião dele com a presidente Dilma e com o presidente do PCdoB, Renato Rabelo, no Palácio do Planalto. "Fato nenhum houve que possa comprometer a minha honra e minha conduta ética", afirmou o agora ex-ministro. 



Orlando Silva voltou a dizer que não há provas contra ele e tachou as denúncias feitas pelo policial militar João Dias como um "ataque baixo" e uma "agressão vil", mas admitiu o acirramento da crise política por causa das denúncias. "Decidimos que a melhor solução seria sair do governo para defender a minha honra", disse. "Saio com o sentimento do dever cumprido".  



"Nós defendemos desde o primeiro momento nosso ministro porque ele é honesto, sincero e um jovem com grande capacidade", disse Renato Rabelo, durante a entrevista coletiva. 



A decisão de tirar Orlando Silva do governo já estava tomada desde a manhã desta quarta. Conforme noticiou a coluna Radar on-line, Orlando Silva era considerado desde cedo pelos colegas de partido e pelo governo um "cabra marcado para morrer". Às 18 horas o ministro da Secretária-Geral da Presidência, Gilberto Carvalho, confirmou que a demissão era inevitável. 



Carvalho recebeu, por volta das 10 horas, Orlando Silva e líderes do PCdoB para um conversa no Palácio do Planalto. Lá já ficou decidida a demissão do ministro, envolvido em um esquema de corrupção revelado por VEJA. Os comunistas reuniram-se então na Câmara para tratar da sucessão de Silva. Por enquanto, o ministério ficará a
Cargo de um interino, também filiado ao partido de Orlando Silva, o secretário-geral da pasta, Waldemar Manoel Silva de Souza.



Aldo Rebelo é o novo ministro do Esporte

Relator do Código Florestal na Câmara foi escolhido pela presidente Dilma Rousseff para ocupar vaga deixada por Orlando Silva; ministro do Esporte caiu após revelação, feita por VEJA, de seu envolvimento em esquema de corrupção




O deputado federal Aldo Rebelo (PCdoB-SP) foi confirmado como substituto do ministro do Esporte, Orlando Silva, afastado do cargo após envolvimento em esquema de corrupção revelado por VEJA. O anúncio oficial foi feito após reunião da presidente Dilma Rousseff com o próprio Aldo e o presidente do PCdoB, Renato Rabelo, no Palácio da Alvorada. A nomeação será publicada na edição desta sexta do Diário Oficial da União (DOU). A posse será na segunda-feira.



Perfil - O comunista nasceu em Alagoas, tem 55 anos e é jornalista. Além de ser do mesmo partido para o qual a verba da pasta era desviada, Rebelo teve um início de vida política parecido com o do ministro que deixou a vaga. Ambos foram líderes estudantis e presidiram a União Nacional dos Estudantes (UNE) e a União da Juventude Socialista (UJS), mais um sinal de que a troca não garante que as coisas vão mudar. 

Aldo Rebelo foi vereador de São Paulo e está em seu quinto mandato como deputado federal. Apesar da discrição ao evitar discursos e entrevistas, é considerado um dos parlamentares mais influentes do Congresso, graças a seu poder de articulação. A habilidade em atuar nos bastidores rendeu-lhe rápida ascensão durante o mandato do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva: passou de líder do PCdoB a líder do governo, foi eleito presidente da Câmara e depois tornou-se ministro da Secretaria de Relações Institucionais da Presidência da República. 

Como parlamentar, ganhou maior destaque ao ser escolhido relator do projeto que altera oCódigo Florestal brasileiro. Já no mandato de Dilma, seu relatório provocou debates ideológicos entre ruralistas e ambientalistas e chegou a irritar o próprio governo, que defendia pontos não inseridos na proposta, aprovada na Câmara em maio. No entanto, por causa do trabalho na reformulação do Código, recebeu, nesta semana, homenagem durante o Congresso Nacional de Avicultura, com direito a elogios inflamados do vice-presidente da República, Michel Temer (PMDB-SP), e do presidente da Câmara, Marco Maia (PT-RS).

Em setembro, passou perto de ser escolhido ministro do Tribunal de Contas da União (TCU), mas perdeu a vaga para a deputada federal Ana Arraes (PSB-PE), que assume o cargo nesta quarta. Rebelo era favorito do governo, mas perdeu apoio quando Lula decidiu fazer campanha em favor da candidata do PSB. Apesar de não tomar posição pública, o Planalto defendia a escolha do comunista, para afastá-lo da Câmara e facilitar a votação do Código Florestal na casa quando o texto retornasse do Senado. 

Cronologia - A queda de Orlando Silva começou a se desenhar quando VEJA revelou, na edição do dia 19 de outubro, que o ministro era o mentor de irregularidades na pasta e que recebeu propina na garagem do próprio ministério. Silva passou a semana seguinte negando as acusações e chamando o delator do esquema de “bandido” sem credibilidade. Foi à Câmara e ao Senado prestar depoimento. “Querem tirar ministro no grito”, reclamou na quinta-feira.



No dia seguinte, Silva foi recebido pela presidente Dilma e entregou a ela um calhamaço de documentos em que tentava se defender das acusações. Foi mantido no cargo - pelo menos até esta quarta-feira. No mesmo dia, o procurador-geral da República, Roberto Gurgel, enviou ao Supremo Tribunal Federal (STF) um pedido de investigação sobre o caso. Na terça-feira, a solicitação foi aceita e o Supremo abriu um inquérito para apurar os desvios - fato considerado pelo Planalto como a estopim para a queda do ministro.  



A situação de Orlando Silva já havia se complicado depois que VEJA desta semana mostrou detalhes sobre como um assessor do ministro Orlando Silva orientou o policial militar João Dias Ferreira a enganar a fiscalização do próprio ministério. João Dias foi o delator do esquema de corrupção instalado no ministério.



O ministro ainda compareceu ao Senado na terça-feira. Pretendia falar sobre a Lei Geral da Copa, mas enfrentou protestos da oposição e ouviu um pedido direto de Onyx Lorenzoni (DEM-RS): "Pede para sair, ministro. O senhor vai fazer um bem para o país."


Gota d'água - As revelações e a abertura do inquérito no Supremo foram à gota d’água em uma relação já difícil entre Dilma e Orlando Silva, mais um ministro herdado por ela de Luiz Inácio Lula da Silva. Há tempos Dilma estava insatisfeita com o trabalho de Silva e tentava tirar dele o comando da organização da Copa do Mundo de 2014. Na visão da presidente, o ministro era próximo demais da Confederação Brasileira de Futebol (CBF). Quando o caso de corrupção veio à tona, Dilma imediatamente resolveu centralizar as questões relativas à Copa. Quem decide sobre o evento agora é a própria presidente e a ministra-chefe da Casa Civil, Gleisi Hoffmann. 





Corrupção - Reportagens publicadas em VEJA mostram que o partido de Silva, o PCdoB, organizou uma estrutura dentro da pasta para desviar dinheiro público usando ONGs amigas como fachada. As verbas deveriam ser usadas para incentivar crianças carentes a praticar esportes, mas acabavam engordando o bolso dos comunistas. O esquema funcionava da seguinte forma: as ONGs pagavam uma taxa de 20% do valor do contrato ao partido, que fechava o convênio com elas e chegava a indicar fornecedores de notas frias de despesas fictícias para embasar o repasse. 



De acordo com o policial militar João Dias Ferreira, delator do esquema, os convênios previam o atendimento a  5.000 crianças, mas, quando muito, atendiam 500. Muitas vezes, não atendiam sequer uma. Entidades dirigidas por João Dias participaram do esquema e ele chegou a ser preso em 2010 pela polícia de Brasília. Segundo o delator, o dinheiro desviado foi usado pelo PCdoB para pagar despesas da campanha presidencial de 2006. 



Biografia - Orlando Silva de Jesus Júnior tem 40 anos, nasceu em Salvador (BA) e formou-se em Direito e Ciências Sociais. Ele chegou ao comando do Ministério do Esporte em março de 2006, durante o governo Lula, após passar por outros três cargos na própria pasta, de secretário nacional de Esporte, secretário nacional de Esporte Educacional e secretário-executivo do Ministério.



Antes disso, atuou como líder estudantil – foi presidente da União Nacional dos Estudantes (UNE), de 1995 a 1997, e da União da Juventude Socialista (UJS), de 1998 a 2001. Também foi representante da Federação Mundial das Juventudes Democráticas (FMJD).



Em 2008, seu nome foi envolvido no escândalo dos cartões corporativos do governo Lula. Utilizou o benefício para consumo particular em restaurantes sem estar cumprindo agenda oficial. Após as denúncias, alegou ter se enganado e devolveu o dinheiro.



Quedas em série - Até agora, foram demitidos do governo Dilma, por envolvimento com corrupção, os ministros Antonio Palocci (Casa Civil), Alfredo Nascimento (Transportes), Wagner Rossi (Agricultura) e Pedro Novais (Turismo). Nelson Jobim, então titular da Defesa, saiu por criticar publicamente o governo.








Fonte: Revista VEJA 26/10/11




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